Lesões do Bíceps no Cotovelo (aguda e crônica)
O músculo bíceps está localizado na parte frontal do braço e apresenta duas partes, sendo inserido profundamente no cotovelo pelos seus tendões, o que permite a realização de dois movimentos: dobrar o cotovelo e girar o antebraço, colocando a palma da mão voltada para cima.
As lesões são comuns, principalmente associadas a traumas, e podem causar dor e perda de força.
Lesões Agudas do Bíceps no Cotovelo (recentes)
O trauma é a principal causa de ruptura, sendo o mecanismo que gera a lesão a contração do músculo quando o braço está esticado ou sendo esticado, ou ainda, quando há um esforço para carregar ou levantar um objeto. O paciente pode relatar um estalo e dor na parte anterior do cotovelo, e logo percebe uma deformidade no braço, que chamamos de “Popeye reverso” ou invertido . Em alguns casos, pode ocorrer também um formigamento que se irradia para o antebraço no momento do estalo.
O inchaço geralmente aparece em poucos minutos e, com o passar das horas, um hematoma se forma na parte interna do antebraço e do cotovelo, na maioria das vezes
Alguns fatores estão associados à predisposição para a lesão, como doenças que afetam o tendão, degeneração do mesmo e o uso de anabolizantes.
Um exame de ressonância magnética do cotovelo é o ideal para identificar a lesão e determinar o local exato da ruptura do tendão, embora na maioria das vezes a lesão envolva a soltura do tendão do osso.
Tratamento para os Casos Agudos
Os casos agudos são aqueles que ocorreram há poucos dias e o tratamento cirúrgico é o preconizado. O tratamento sem cirurgia é reservado para pacientes idosos com baixo nível de atividade. Vale ressaltar que, em 3 a 4 dias, a dor melhora consideravelmente, e muitos pacientes acreditam que a cirurgia não é necessária, o que pode acarretar consequências indesejáveis com o passar dos meses, como dor e limitação para girar o antebraço e colocar a palma voltada para cima. A força para dobrar o cotovelo não é tão comprometida, pois outro músculo, que possui bastante força para esse movimento, acaba compensando a falta do bíceps.
O tempo ideal entre a lesão e a cirurgia é o mais breve possível, mas é aceitável esperar até 2-3 semanas. Após esse período, o músculo tende a encolher e o tendão pode retrair, o que torna o tendão mais tenso quando reposicionado no osso.
Na cirurgia, como a maioria das lesões envolve o rompimento do tendão soltando-se do osso, o procedimento consiste em reinseri-lo, com uma duração aproximada de 1 hora.
As técnicas cirúrgicas variam conforme a preferência e experiência do cirurgião, podendo ser realizadas com um corte amplo ou dois cortes menores no cotovelo.
A anestesia mais realizada é a regional, ou seja, anestesia local próxima ao pescoço, o que é suficiente para a conclusão do procedimento.
Embora pareça simples restaurar a anatomia reinserindo o tendão no osso, algumas complicações podem ocorrer, incluindo lesões nervosas na região. A experiência do cirurgião minimiza os riscos de complicações, garantindo o melhor resultado. Contudo, o paciente deve estar atento aos cuidados pós-operatórios. O uso de tipóia é importante, pois o objetivo é permitir a cicatrização do tendão junto ao osso, o que leva algumas semanas. O tempo de imobilização é de 4 a 6 semanas.
Já no primeiro dia após a cirurgia, inicia-se a fisioterapia, com o paciente retornando a realizar exercícios com peso para ganho muscular do bíceps após 8 a 12 semanas.
Lesão Crônica do Bíceps no Cotovelo
As lesões crônicas podem ser resultado de uma lesão aguda não tratada, ou podem ocorrer devido ao desgaste gradual do tendão ao longo do tempo, à medida que sua qualidade diminui.
Nos casos em que o tendão não foi corrigido após a lesão, o paciente frequentemente relata dor no cotovelo, que aumenta devido à sobrecarga muscular, já que outros músculos precisam compensar a falta do bíceps. Outra queixa comum é a perda de força para girar o antebraço e manter a palma virada para cima. Quanto mais jovem e maior for a demanda do paciente, mais intensos serão os sintomas. A deformidade nos casos crônicos costuma ser significativa, com o músculo sofrendo atrofia. Em casos assim, muitas vezes não é possível reinserir o tendão, pois ele não alcança o osso e, além disso, está degenerado, o que prejudica sua cicatrização. Nesses casos, é necessário utilizar um enxerto de tendão, que pode ser retirado do próprio paciente (sem prejudicar a área de onde é retirado) ou de um banco de tecidos. O tempo de cirurgia costuma ser maior, podendo durar cerca de 2 horas, dependendo da dificuldade para corrigir a lesão.
O uso de tipóia é necessário para a cicatrização do enxerto tanto no músculo quanto no osso, e o tempo de imobilização é de aproximadamente 4 a 6 semanas.
O resultado costuma ser bom, embora não seja o mesmo que quando a cirurgia é realizada logo após a ruptura. O sucesso do procedimento depende dos cuidados do paciente, da cicatrização, da reabilitação e da eficácia do procedimento cirúrgico. É fundamental escolher um cirurgião experiente para as cirurgias de bíceps no cotovelo, especialmente nos casos crônicos.
Nos casos de lesões parciais crônicas, causadas pela degeneração do tendão, o tratamento conservador (sem cirurgia) pode ser eficaz.
O uso excessivo do cotovelo em pacientes com lesões parciais pode gerar quadros dolorosos, como inflamação de uma bursite profunda no cotovelo, ao redor do bíceps (bursite bicipitoradial). O uso de anti-inflamatórios, analgésicos e fisioterapia pode ajudar no tratamento. A cirurgia é recomendada para pacientes que não apresentam melhora com o tratamento conservador. Novas tecnologias e procedimentos guiados por ultrassom podem ser alternativas para casos de ruptura parcial que persistem com dor, sem melhora com os tratamentos iniciais.
DR VAGNER MESSIAS
- Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
- Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo
- Membro da Sociedade Latinoamericana de Ombro e Cotovelo
- Membro da Sociedade Médica Brasileira de Terapia por Ondas de Choque
- Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual
- Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas em Dor